segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Em seus 76 anos e contando, o Superman tem colecionado não só um grande número de adaptações produzidas para outras mídias como também uma considerável quantidade delas que nunca sairam do papel. Ironicamente, estes projetos malfadados despertam de forma contínua ao longo das décadas a curiosidade de muitos fãs do Homem de Aço.

Entre os muitos filmes nunca produzidos do herói, encontra-se SUPERMAN AND THE SECRET PLANET (Superman e o Planeta Secreto). Sua produção teria acontecido nos anos 50 e seria estrelado por ninguém menos que George Reeves, responsável por viver o Último Filho de Krypton e seu alter-ego Clark Kent no seriado de TV As Aventuras do Superman entre os anos de 1952 e 1958.

The Adventures of Superman: George Reeves em cena.
(Foto: The Times of Israel)

Produzida pelos cereais Kellog's a partir do filme de 1951, SUPERMAN AND THE MOLE MEN (Superman e os Homens-Toupeiras)[1], nada menos que o primeiro filme longa metragem do Homem de Aço para o cinema, a série se tornou um sucesso instantâneo entre as crianças dos Estados Unidos e depois do mundo por onde foi televisionada. Reeves era um ator que havia migrado do cinema para TV, naquela época um indício irrevogável de final de carreira. Apesar de talentoso e de toda popularidade adquirida com o papel do herói, ele se ressentia de ter ficado estereotipado como o Homem de Aço com o passar dos anos.

Poster horizontal de SUPERMAN AND THE MOLE MAN (1951)

A imensa popularidade e os índices de audiência do programa foram o bastante para ser encomendado o script de outro filme longa metragem para o cinema em 1957 ao escritor David Chantler, responsável por vários roteiros de TV na época[2]. Mas aí começaram os problemas e reviravoltas: após 6 anos no ar e de entrar para a História como um dos primeiros seriados da televisão a cores nos Estados Unidos, o show foi cancelado em 1958 apesar de seu sucesso contínuo junto ao público, em especial o infantil. Depois, John Hamilton, responsável por viver Perry White no seriado, morreu naquele mesmo ano. Ainda empolgados com o supracitado sucesso da série, os produtores retomaram as conversas no começo de 1959 para trazê-lo de volta ao ar e, por volta do fim do primeiro semestre, os contratos estavam novamente assinados e os uniformes do Superman, confeccionados, mirando a produção de 26 novos episódios[3].

Como George Reeves estava muito insatisfeito com o papel e desejava se ver livre do Homem de Aço, as negociações com ele foram mais demoradas neste período, mas ao fim ficou acordado dar-lhe mais poder criativo sobre a série, além da cadeira de diretor em alguns episódios e o comprometimento de fazê-los mais sérios e com mais cenas de ação aos modos de como eram na primeira temporada[4].

O futuro promissor para a equipe e os fãs do Superman envolvendo uma nova temporada e um segundo filme para os cinemas terminou naquele 16 de junho de 1959 quando George Reeves foi encontrado morto em sua casa, um dos grandes mistérios ainda a rondar até os dias de hoje a História de Hollywood sem explicação.

LEGADO PERDIDO, SUPERGIRL E LEGADO RESTAURADO

Mas no que SUPERMAN E O PLANETA SECRETO teria se baseado? Como teria se diferenciado das outras adaptações para as telas com o Homem de Aço em sua época? E mais importante: ele teria sobrevivido ao teste do tempo?

Bom, para começar, diferente de Superman e os Homens-Toupeiras, ele seria uma produção grande, com largo investimento financeiro, algo incomum para a época quando a ficção científica estava relegada aos filmes B. A trama envolveria um enorme pedaço do planeta Krypton habitado(!) chegando à Terra e espalhando destruição pelo mundo, levando ao posterior confronto do Homem de Aço com seus conterrâneos chefiados pelo líder rebelde Zonar, antecipando em exatos 20 anos alguns detalhes da trama de SUPERMAN II (1979).

A produção teria uma ligação direta com a série de TV e levaria em consideração fatos e elementos mostrados lá assim como utilizaria todo o elenco original, incluindo evidentemente Noel Neill como Lois Lane e Jack Larson como Jimmy Olsen. Resumindo: seria um episódio mais longo e bem produzido de The Adventures of Superman para a tela grande. Utilizando um comparativo moderno, podemos pensar nos filmes de Arquivo X: eles possuem tramas individuais e fechadas em si, mas conectam-se com o seriado de onde vieram, utilizando os mesmos atores, histórico etc. 

A ideia de um fragmento de Krypton do tamanho de um planetoide aproximando-se da Terra foi diretamente extraída de K-Metal from Krypton, a mais importante história do Superman nunca publicada. Escrita por Jerry Siegel e ilustrada por Joe Shuster, os criadores do Homem de Aço, ela se tornou um marco na vida editorial do personagem por sinalizar o fim do controle criativo da dupla sobre o herói e o começo do mando editorial da National Comics (hoje DC) e que culminou com a demissão de ambos em seguida[5].


Uma especulação ainda mais interessante toma forma aqui: quem lembra a origem da Supergirl em 1959, conhece a explicação de como a Cidade de Argo escapou da destruição do planeta Krypton graças a um campo força, bem próximo do mostrado no roteiro de Superman and the Secret Planet, escrito dois anos antes da estreia de Kara Zor-El em Action Comics #252! Coincidência? Pouquíssimo provável. Vamos aos fatos: o editor das revistas do Homem de Aço na época era o lendário Mort Weisinger e ele também desempenhava a mesma função com as histórias da série de TV The Adventures of Superman. É bastante provável que Weisinger teve acesso ao roteiro de Chantler e, valendo-se da troca e reaproveitamento de ideias tão comuns entre adaptações e suas obras originais, ele talvez tenha encomendado a Otto Binder, criador da Dama de Aço, uma história unindo conceitos de K-Metal from Krypton (um destroço gigantesco daquele mundo destruído se aproxima da Terra) ao script do filme (ele trás em si uma pequena urbe com sobreviventes). A confirmação, porém, ficará para algum documento perdido que a História ainda não encontrou.

A Cidade de Argo em Action Comics #252

É bom lembrar que em 1957-59 muito da mitologia do Superman ainda estava sendo desenvolvida. Há apenas 8 anos antes em Superman #53, Bill Finger e Wayne Boring haviam recontado pela primeira a origem do Homem de Aço após a demissão de Jerry Siegel e Joe Shuster, começado o longo processo de inserir novos fatos e conceitos à história do herói, alguns contradizendo claramente aqueles estabelecidos pelos seus criadores. Assim, nomes pouco ortodoxos para os padrões kryptonianos posteriores como Palo e Mauno, sem os tradicionais hifens separando nome e sobrenome (Kal-El, Jor-El, Lor-Van, Dru-Zod etc), são vistos pelo roteiro de nomeando os sobreviventes do planeta condenado.

Quanto ao teste do tempo, é bastante difícil responder como a produção seria vista pelo público ao longo dos anos seguintes caso houvesse saído do papel, mas baseado no fato que Superman e os Homens-Toupeiras é virtualmente negligenciado tanto pela audiência moderna, quanto pelos fãs - muitos inclusive desconhecendo sua importância histórica como o primeiro longa metragem do Superman nos cinemas -, é possível que SUPERMAN AND THE SECRET PLANET talvez se encontrasse em situação similar, tal como a série estrelada por Kirk Alyn. Mas - quem sabe? - o largo investimento planejado para ele aliado à potencial boa bilheteria talvez reestruturasse a ficção científica em produções sérias e rentáveis, antecipando novamente em 20 anos aquilo conseguido por obras como 2001 e Star Wars no final da década de 70.

A boa notícia é que o script sobreviveu e alguns pesquisadores e fãs tiveram acesso a esse material durante as décadas seguintes. Entre eles estão Jim Nolt e Lou Koza, responsáveis pelo site THE ADVENTURES CONTINUE dedicado ao seriado As Aventuras do Superman e sua equipe. Ao lado do artista e designer Randy Garret, eles tiveram a brilhante ideia de converter o roteiro de Chantler em uma adaptação em quadrinhos, reproduzindo com a maior fidelidade possível os rostos dos atores bem como o estilo de roupas e cenários vistos na série de TV. O resultado espetacular você pode conferir na íntegra abaixo: são quarenta e duas belíssimas páginas resgatando toda a magia daqueles distantes anos 50.

Agradecimento todo especial ao sr. Jim Nolt por autorizar o Kryptonauta a publicar pela primeira no Brasil este material, bem como ao sr. Garret, cujo site pessoal pode ser visto aqui. Jim também tem um grupo dedicado à memória de George Reeves e The Adventures of Superman no facebook, confira aqui. A postagem original da história abaixo encontra-se neste link. Então corra, role a página e descubra este segredo perdido da história do Superman e da cultura pop.




































ATENÇÃO: Conforme Jim Nolt explica no site original[6], o roteiro termina no segundo painel da página acima. O que se segue em seguida e abaixo é parte da imaginação de Randy Garret, pois ambos sentiam que a história não deveria acabar no escritório de Perry e queriam uma parada comemorativa.









FONTE:

[1]Superman and the Mole Man só teve sua estreia nos cinemas um ano depois, em 1952. Foi lançado no Brasil pela Warner vídeo como conteúdo extra da caixa comemorativa de filmes em 2006.
[2], [3], [4]<http://cecilbuffington.com/photo3_19.html> Acesso em 6 de setembro de 2014.
[5]The K-Metal from Krypton, The Most Important Superman Story Ever Written.<http://k-metal.cc/about-k-metal.php> Acesso em 7 de setembro de 2014. 
[6]<http://www.jimnolt.com/splanet37nm.htm> Acesso em 7 de setembro de 2014.

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