segunda-feira, 12 de maio de 2014

 
INJUSTIÇA - DEUSES ENTRE NÓS
Encadernado
196 páginas
R$ 22,90
Panini Comics
O flerte entre quadrinhos e jogos eletrônicos acontece desde quando o Atari foi lançado no anos 70 e o próprio Superman foi um dos primeiros personagens a ganhar uma versão em bits. Depois, na era da Sega e da Nintendo, viu-se outro fenômeno: jogos de video games transformados em HQs. Foi assim com Mario Bros. e Street Fighter por exemplo. Nos últimos 4 anos, porém, algo ainda mais inusitado começou: jogos baseados em quadrinhos ganhando versões em quadrinhos. A DC novamente saiu na dianteira aqui com DC Universe Online Legends, baseada no jogo massivo para multidões DC Universe Online editado pela Sony, e com a série Arkham. Verdade seja dita: estas revistas transitavam apenas entre o medríocre e o aceitável, sendo no fundo verdadeiros caças-níqueis dispensáveis até para colecionadores. Mas a boa notícia é que INJUSTIÇA - DEUSES ENTRE NÓS, o mais novo exemplar deste ciclo, consegue se sair muito bem e está acima média de seus primos.

A série é baseada em INJUSTICE - GODS AMONG US, jogo de luta produzido pelo NetherRealm Studios e apresenta uma realidade paralela onde o Superman, após sofrer uma grande tragédia pessoal, começa sistematicamente a tomar o controle do mundo para tentar por um fim às guerras e criminalidade, contando com a ajuda de vários membros da Liga da Justica. Evidentemente, Batman, o eterno rebelde e contestador, vai se opor a isso enquanto a Mulher-Maravilha, dona de uma agenda própria, começa sutilmente a ver na situação a oportunidade de moldar um mundo melhor. Segundo os paradigmas dela, claro. A versão em quadrinhos - ao menos a parte compilada neste encadernado - mostra como tudo isto aconteceu e se passa antes dos eventos mostrados no game.

A idéia do Superman envolvido em polítical mundial ou como líder do mundo nem de longe é nova e já foi abordada com menor ou maior intensidade desde filmes (Superman IV), realidade paralelas (Armaggedon 2001, Reino do Amanhã) até a cronologia oficial (O Rei do Mundo), mas, mesmo caminhando por território desbravado, o roteirista Tom Taylor consegue apresentar questões relevantes sobre poder e arbítrio, assim como fazer questionamentos e mostrar os heróis tendo atitudes e comportamentos que jamais poderiam na continuidade "oficial".

O fato da trama se passar em uma realidade paralela como DC Universe Legends também poderia ser um minimizador do impacto das várias tragédias que acontencem nas 196 páginas desde mortes até amizades deterioradas, afinal, não envolvem os heróis "oficiais", mas também não é o caso. As primeiras perdas são sentidas e apresentadas de forma impactante e emotivas, sentimentos aguçados pela boa construção dos personagens.
A bela arte de David Yardin.
Um detalhe incômodo é o fato de novamente o Superman ser colocado como vilão enquanto o Batman torna-se o salvador. Claro, isto não é culpa de Taylor, mas sim dos realizados do jogo no qual sua revista é baseada. É a receita de bolo de sempre, colocando o herói mais rentável (atualmente) da DC como "herói", mas ao menos aqui o autor consegue contornar a decisão e apresentar uma história envolvente e relevante tanto para o Homem de Aço, quanto para o Homem Morcego.

A arte é eficiente. Existe uma rotatividade de artistas e uns se destacam mais do que outros. A maior parte das histórias é assinada pelos competentes Jheremy Raapack e Mike S. Miller, enquanto o vetenerado Tom Derenick (Smallville) apresenta suas composições dinâmicas de sempre. Mas o ponto alto são os desenhos de David Yardin, a melhor surpresa da revista. Ele é o responsável por uma das mais belas sequências da edição, mostrando um embate entre a Mulher-Maravilha e soldados. Pena ele não assinar tantos capítulos quantos seus demais colegas.

NOTA FINAL: 8

INJUSTIÇA vale seu dinheiro tanto se você é fã do game, quanto de quadrinhos. Não é preciso ter jogado um ou conhecer o outro para apreciar o bom trabalho realizado aqui e é possível que a revista acabe realmente cumprindo a função deste tipo de publicação, ou seja, atrair novos jogadores e curiosos para o jogo. É um bom exercício de imaginação com os personagens da DC em uma realidade mais trágica, mas, graças a competência de seu escritor, nem por isso menos emocionante. Se esta for a qualidade com a qual a DC irá tratar as adaptações de seus games de agora em diante, já estou aguardando com ansiedade INFINITE CRISIS.

É bom lembrar que este encadernado contém as edições 1 a 6 e a Panini ainda não tem data oficial para dar continuidade à série no Brasil, como dito aqui. Nos EUA, ela já entrou em seu segundo ano e segue com boas críticas.

1 comentários:

  1. Se você como eu, se empolgou com as batalhas sangrentas do universo DC a comando do Super-Homem em sua retribuição a impunidade de Ano I, ficou ainda mais instigado com a intervenção dos Lanternas Verdes, levando a uma das mais brutais batalhas dos quadrinhos, saiba agora, o quanto conseguiram deliberadamente, transformar uma das séries mais lidas da DC dos últimos anos (até mesmo por quem diz detestar a DC) em uma história rasa do Constantine, que te faz de bobo, além de banalizar com pílulas em lutas sem sentido, todo conflito ideológico do Super-Homem com o Batman. Para não dizer que a série foi de toda ruim, vamos ser otimistas e dizer que o fim dela realmente foi quando o Tom Taylor saiu dos roteiros na edição #14. Mas vamos lá...
    Ano II terminou com o gancho do Super-Homem agora possuir o anel amarelo, tendo em seu lado pesos pesados como Hal Jordan (atualmente Lanterna... Amarelo), Sinestro e posteriormente o quase invencível “Espectro”. Paralelo a isso, um grande (se não o maior) personagem da Vertigo, o Sr. Constantine, caminha vendo a destruição da luta contra os Lanternas, com suas “análises” em recordatórios, John vai servindo de novo protagonista em toda a história. O problema é a natureza do personagem que não casa muito bem com toda a proposta, seria como pegar o Justiceiro do selo Max roteirizado pelo Garth Ennis e colocar numa megasaga lutando ao lado do Quarteto Fantástico, é o tipo de coisa que fica um tanto deslocada. John já chega como o dono do pedaço, perto dele o Batman é só um fantasiado qualquer sem ter muitos planos “um homem adulto brincando de se esconder nas sombras”, o que faz com que Constantine tenha todas suas ideias aceitas, tornando “JC” o maior opositor do Super-Homem.
    “Ah, tem que dar espaço para mais personagens, não é só ficar com o Batman não”. Concordo plenamente, tanto que em Ano I a divisão de espaço entre as vozes dos times era bem melhor elaborada, Flash era um contraponto com possuidor de um raciocínio que acompanhava a velocidade revolucionária de Kal-El, Damian Wayne contestava os métodos manipuladores do pai, Aquaman era uma ameaça a todo o império, Lex Luthor tinha vários planos... Tudo se foi. Fica a sensação de falta de vontade em criar, apenas indo acrescentando mais personagens futuramente “jogáveis” e fim da história. Decisão editorial? Mudança de time do Tom Taylor? (que a propósito, está fazendo um Homem de Ferro muito bem inscrito na Marvel atualmente) fica ao leitor mais detalhista ao menos se contentar com referências ao nocaute de uma página que Guy Gardner sofre pelo Batman, ou as respeitosas menções ao “Reino do Amanhã” e “Para o Homem que Tem Tudo”.
    A ideia final que Taylor passa, é a realista ( e incômoda para alguns) possibilidade de que de uma forma ou outra, um dia o Super-Homem se posicionaria de forma incisiva perante a humanidade, ou mesmo seus descendentes, no caso, fica a suposição de sua filha (Alguém ai falou em Cavaleiro das Trevas 2?). Mesmo que apressadamente, Injustiça colocou de maneira criativa, a corresponsabilidade da sociedade super-heroíca com a vilania, mostrando tranquilamente que enquanto vilões sobreviverem, eles naturalmente corromperam heróis, ao passo que esses, quase nunca redimiram alguns. Infelizmente.

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