segunda-feira, 18 de abril de 2016

Convergência chegou às bancas brasileiras pela Panini em fevereiro e, assim como nos EUA, a editora brasileira interrompeu a publicação de seus títulos regulares para trazer edições especiais de tiragem única relacionadas ao evento.

O arco segue o modelo adotado pela DC e Marvel para suas sagas nos últimos anos: uma revista título (Convergência, no caso) onde a trama se desenrola enquanto nos títulos secundários vemos o desenrolar de detalhes apenas apresentados ou implícitos nas edições principais. Isto ajuda o leitor pois ele não precisa necessariamente comprar todas as revistas para acompanhar o evento, apenas as principais e aquelas com os personagens de seu interesse, mas voltarei a esta questão financeira mais antes. Antes, vou explanar um pouco da trama em si.



CONVERGINDO

Mas o que é Convergência e qual seu impacto no atual multiverso DC? Calma, não vou entregar spoilers aqui, apenas explicar a origem da história e os aspectos explorados por ela.

Para entender os eventos-chafe que levaram à Convergência, é preciso abordar os acontecimentos desenrolados em três histórias diferentes: Condenado, Fim dos Tempos e Terra-2 (publicada em Multiverso DC no Brasil).

A trama gira em torno do Brainiac da Terra-0 que, ao fim da saga Condenado, foi lançado pelo espaço-tempo, feito que sobrecarregou seu corpo com energias cronais, deformando-o e tornando-o uma entidade poderosíssima. Não apenas isso: esta viagem deu a ele conhecimento do multiverso e além: das versões do multiverso existentes no passado (pré-Crise nas Infinitas Terras, pré-Zero Hora, Ponto de Ignição etc). Então basicamente, de uma forma quase metalinguística, este personagem é como o leitor que acompanhou toda a história da editora nas últimas quase 8 décadas.

Assim como suas versões "menores" de outras continuidades, este Brainiac também continuou a colecionar cidades, mas com duas diferenças: ele agora as coleta de várias versões do multiverso (algumas até  extintas) e as aprisiona não em uma nave, mas em um planeta! E mais, ele conferiu inteligência a este mundo, chamado de Telos.

Aqui entra Fim dos Tempos, onde este Brainiac deformado e poderso visita um possível futuro do atual universo DC daqui há 5 anos e tenta roubar Metrópolis, fato que tráz o Superman de volta à ativa ao lado da Liga da Justiça e do vilão Dr. Polaris. O esforço de todos acaba derrotando o vilão, que simplesmente desaparece após o confronto.

Brainiac deformado pelas energias cronais torna-se uma entidade de imenso poder e investe contra a Metrópolis da Terra-0 cinco anos no futuro.


Telos, enquanto isso, dá por conta do sumiço de seu mestre e se pergunta o que fazer com todas as cidades de todas as eras e versões do multiverso DC que ele coletou. Sua decisão, aparentemente, é a mais banal possível: colocar os campeões de cada uma para lutar entre si até que a urbe vitoriosa ganhe o direito de existir. Lembrando que a maioria delas não tem mais realidades para onde ser devolvidas, pois elas foram apagagas como as Terra-1 e 2 do multiverso pré-Crise e vindas do Ponto de Ignição. Além disso, o planeta é capaz de se projetar numa forma humanóide com a qual se apresenta aos heróis e vilões.

Telos e algumas das cidades aprisionadas.



IDEIAS COPIADAS

Convergência se trata então de uma fusão dos conceitos de Under the Dome, Guerras Secretas e Contest of Champions (ambos os últimos da Marvel).

Dentro da trama, independente de onde a cidade tenha vindo, passou-se um ano desde seu sequestro, pois Telos existe fora dos conceitos de tempo e espaço convencionais. Os títulos secundários, editados originalmente nos EUA em dois volumes cada um, exploram no primeiro número como foi a vida dos personagem durante este período e seu primeiro confronto com os oponentes de outra cidade/realidade, enquanto o próximo foca quase exclusivamente no duelo dos heróis (ou vilões) entre si.

A parte de Under the Dome fica justamente neste clima de drama que as primeiras partes buscam retratar, mostrando pessoas comum e heróis lidam com a realidade dentro dos seus domos. Se soa pouco original, é porque é. Já de Guerra Secretas ela herda o fato dos heróis e vilões serem tirados de seus lugares de origem para lutarem entre si, outro ponto comum a Contest of Champions.

Portanto, se comparada a Vilania Eterna, por exemplo, Convergência é bastante inferior no quesito originalidade e na própria narrativa da trama principal.

COMO ENCARAR CONVERGÊNCIA

A melhor maneira de encarar a saga é como um reencontro com velhos amigos. Se você como eu, um leitor de décadas e acompanha o universo DC desde antes do reboot de 1985, será a oportunidade de rever pela última vez a versão original dos heróis da Terra-1 e Terra-2. Se você é fã da fase pós-Crise ou até de alguns elseworlds como Chuva Rubra ou Gotham by Gaslight, também poderá rever suas versões preferidas. A qualidade destas histórias, porém, varia bastante e aqui está o maior problema de quem quer acompanhar várias revistas ligadas ao arco: além de sair caro, muitas são fracas.

O QUE COMPRAR?

Com a crise (financeira mesmo) batendo na porta de uma parcela considerável da população, muitos não se sentirão dispostos a adquirir todas as revistas da saga, afinal, serão ao todo 23 revistas, das 12 saíram em fevereiro. Então, fica a dúvida, o que comprar?

Se você quer simplesmente acompanhar a história, o investimento inicial é apenas em Convergência #0, #1 e #2. De todas as demais edições, a única que lança alguma luz sobre algum dos eventos das revistas principais é Gladiador Dourado e Besouro Azul. As demais não mostram ou contém qualquer detalhe relacionado à trama central, mostrando apenas o dia-a-dia sobre o domo e o eventual confronto entre os personagens. Portanto, não se deixe impressionar pelo guia de leitura presente em várias revistas relacionadas ao arco.

As edições envolvendo o Homem de Aço - e afinal somos um blog dedicado a ele - são As Aventuras de Superman e a Legião dos Super-Heróis (feveiro), Superboy e Aço e Superman (ambas em março).

SUPERMAN E A LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS

Esta revista apresenta o Superman pré-Crise em dois momentos: primeiro ao lado da Supergirl original e depois ainda como Superboy ao lado da Legião.

Ironicamente, é uma das melhores revistas do mix de março, tendo um foco bastante emocional no trágico destino da antiga Dama de Aço em Crise nas Infinitas Terras.

SUPERBOY E AÇO

O Superboy pré-Zero Hora encontra-se com o Superman do Reino do Amanhã enquanto o Aço, também vindo do período pré-Zero Hora, confronta-se com o Gen13 do universo Wildstorm (originalmente da editora Image e depois adquirida pela DC).

Enquanto a história do Superboy tem lá seu charme por ele ser de uma geração de personagens que a série Reino do Amanhã, e seu Superman, criticavam, a história do Aço também não é nada espetacular tornando o título igualmente mediano.





SUPERMAN

Junto com as edições de Convergência, é talvez a edição mais importante que os fãs do Homem de Aço devem investir dinheiro pois os eventos aqui relacionados tem relação direta com o futuro do universo DC no evento Rebirth programado para começar em maio nos Estados Unidos. Saiba mais aqui (ATENÇÃO: o artigo contém spoilers).

De todas as edições de Convergência com um Superman, esta é a mais importante para o futuro do personagem dentro do multiverso DC.










O problema dos demais títulos de outros personagens é justamente a já citada falta de homogeneidade na qualidade das histórias, mesmo aquelas com personagens e premissas interessantes. Por exemplo, vejamos o caso de Shazam! e Homem-Barracha & Os Combatentes da Liberdade: enquanto as aventuras do Capitão Marvel são acima da média, a do grupo do Homem-Borracha é irregular.

Portanto, a menos que você seja fã do Batman também, terá de fazer algumas escolhas cruéis para investir neste ou naquele título pois as chances de comprar um para ler apenas uma história (em duas partes, lembre-se) são grandes.

A mais fraca de todas é Mulher-Maravilha e Aquaman.

VEREDITO

Quem acompanha criticamente a indústria de quadrinhos do ponto de vista editorial nos EUA sabe que se trata de um mercado em recessão. Sim, os filmes, desenhos e séries baseadas em personagens de HQs estão aí fazendo rios de dinheiro, mas os quadrinhos em si vendem menos hoje, gerando um mercado que busca cada vez mais se reinventar, daí reboots, sagas, morte deste ou daquele personagem visando atrair novos leitores e ou manter ou trazer de volta os antigos.

O problema principal de Convergência é que ela gira em torno de fatos e curiosidades que apenas quem acompanha a DC há muito tempo pode apreciar na totalidade. Leitores novatos ficarão perdidos ou não entenderão alguns pontos, referências e até a intenção de certos roteiristas como dar um "final feliz" para o Arsenal, Asa Norturna e Oráculo pré-Ponto de Ignição. A transição para o universo dos Novos 52 foi inegavelmente rápida e vários plots foram fechados às pressas de modo pouco satisfatório para editores e leitores e o do antigo Ricardito foi um deles. Aqui, tiveram a oportunidade de dar uma despedida mais digna a vários personagens, incluindo o belo final do Gavião Negro e da Mulher-Gavião pré-Crise, uma das cenas mais bonitas do evento.

Vale apontar que a Panini fez um trabalho primoroso com as edições para minimizar este sentido de deslocamento e de estar perdido: no começo de cada história, colocaram de qual realidade estão vindo os competidores e, ao fim, um resumo apresentando os principais acontecimentos na vida daqueles heróis na linha do tempo (ou versão do multiverso DC) de onde vieram.

Se você é novato, vá com curiosidade e lembre-se: o google é seu amigo, pois irá se sentir impelido a buscar mais sobre esta ou aquela versão dos personagens. Se você é veterano, vá se despedir de novo de seus velhos amigos de outrora, quem sabe até suar pelos olhos, mas não espere nada espetacular ou empolgante. Ambos leitores devem manter a espectativa baixa: Convergência é permeada por um ranço oitentista dispensável e, no fim, se mostra um evento bem aquém do que a DC tem feito nos últimos anos mesmo antes dos Novos52.

0 comentários:

Postar um comentário